quarta-feira, 15 de setembro de 2010

É Hora de Sermos Nós



O tempo passa, isso é incontestável. Os segundos carregam as pessoas e as obrigam e interagir com a conseqüência dos fatos, e como qualquer outro grupo de seres, perecemos ao andar do relógio e nos rendemos a emoções nos tempos de seca e vacas magras.

No nosso caso as vacas são melhores entendidas como títulos significativos.

A emoção e o sentimento de frustração tomaram conta de nós sem dar nem um “oi” e foram se alojando em alguma parte obscura do sentimento de “alentar sempre”, e sem mesmo notarmos começamos a reagir contra o alento e a favor da frustração exemplificada em vaias e gritos negativos principalmente nesse último ano.

Nunca vou me esquecer de uma entrevista do Diego Souza quando disse que ficaria no Grêmio tornando o vídeo um viral Gremista.

“Eu joguei no flamengo, no Benfica, e nunca vi uma coisa tão apaixonada como é essa torcida do Grêmio, acho que ela vem pro estádio apóia o tempo todo... E nesse quase um ano que eu to aqui nunca vi vaiar um jogador e isso é sempre importante... Todo jogador que veste a camisa do Grêmio tem confiança pra jogar e isso é maravilhoso.” Diego Souza – 2007

Declaração essa que foi motivo de orgulho para todos nós. E como é bom sentir esse orgulho.

E é nesse momento que o tempo até em sua versão lingüística nos condena, pois isso não  é verdade. Isso era verdade.

Não vou entrar em mérito dos motivos, cabe a cada um que vive dentro do olímpico assim como eu, imaginarem os porquês, e refletirem sobre suas atitudes e a diferença que elas implicaram na nossa campanha dentro de casa e nas reações das arquibancadas.

Nesse último ano eu escutei coisas como “Não ganhamos nada, tem que vaiar esse time”. “Com jogador assim, não tem como torcer direito”. E a mais assustadora das frases:

“Apoiando a gente não ganha nada, eu vou é vaiar esse time agora por qualquer coisa”.

Nós buscamos um time médio de série B pra ser epicamente campeão em 2005. Nós colocamos um elenco que parecia que iria lutar contra o rebaixamento em 3° lugar do brasileiro em 2006. Levamos no grito até a Final da Libertadores de 2007 um elenco que ninguém dava nada. Fomos vice-campeões Brasileiros com um time que nem nós direito entendíamos como estávamos tão bem em 2008, com uma das cenas mais bonitas que eu já vi na vida naquele 2 a 0 contra o Atlético-MG. Em 2009 chegamos novamente nas semifinais da Libertadores.

Eu pergunto a vocês. Nós não ganhamos nada?

Nos conceitos das pessoas que vêem futebol e o resultado a partir de elencos e estrutura dos clubes, nós obrigamos com que todos os “comentaristas” tenham que responder a pergunta: “Quais as chances do Grêmio?” Independente da competição, contra o time que for, seja qual for o elenco que tivermos, de um único modo.

“O Grêmio é o Grêmio”.

Nós não reclamamos de jogadores. Nós não xingamos técnico. Nós não implicamos com o gramado. Nós não arranjamos desculpas. Nós apoiamos o Grêmio. Sempre. O tempo todo! Sem parar. Com cruzamento errado ou não, nós somos e conseguimos de verdade o que todos perseguem sem conseguir fazer a diferença. Nós entramos em campo, e nós realmente empurramos o Grêmio.

Esse sentimento mortal e comum de frustração tem que ser esquecido, jogado pra longe, que fique fora dos degraus internos do olímpico. Mais do que qualquer coisa, somos Gremistas, não somos torcedores. Nós somos o Grêmio, nós vivemos o Grêmio. Ser Gremista é já nascer único com sentimentos que só nós entendemos e sabemos como é. O Grêmio nos da à sensação real de sermos Imortais.

Que o lapso passe! É hora de sermos nós de novo.

Aos 107 anos do clube que nos torna Imortais.

Obrigado Grêmio. 


segunda-feira, 10 de maio de 2010

90’s: The Last Harvest

Faz tempo que eu vejo (escuto) falarem que os anos 90 foram um desastre para a música. Sem nada novo e com um review dos sucessos das bandas dos anos 70 e 80.

Bom, bandas universais nasceram nos 80. Metallica, Megadeth, Antrax, Slayer, e isso falando da faixa de som que envolve os ‘metals’. O hip-hop pode não parecer, mas nasceu nos 70, mas nos 90 deu ao mundo com o Rap o Tupac Shakur, simplesmente uma mente nova para o mundo fechado de cabeça fraca com suas difíceis relações de raças, principalmente na comunidade americana, nem precisava, mas só mencionar “Changes” diz tudo. Nos mesmos 70 surgiu a música eletrônica, que veio ao mundo com a banda alemã Kraftwerk. Pode se dizer, pelo menos me usando como referência de opinião que os anos 80 para o metal foram os anos de prata depois do forte apelo pós hippie dos anos 60. Com Led Zeppelin, The Doors, Rolling Stones. Em 70 vem a público o Aerosmith, que na época tinha um apelo totalmente diferente.

O fato é que é dito que nos 90 não aparecem novidades. E se tem uma grande bobagem a ser dita é exatamente essa. Os anos noventa começam com nada mais que o Grunge. Um pedido de som próximo ao ‘doom’, letras fortes sem vinculação com religião, mais para a depressão ligada ao tédio, problemas reais e tristes, estilo ‘foda-se’ que poucos sabem, foi a moda do início dos anos 90. Alice in Chains, Sound Garden, Perl Jam, Silverchair... Com a frase cliché “de Seattle para o mundo”, o grunge criou uma procura ao intelecto depressivo, a compreensão da parte triste do ego. A maior mudança da troca de milênios foi a futilização das letras e a incapacidade do público para com letras significativas.

As gravadoras simplesmente decidiram que tudo que fosse difícil de entender era ‘não-comercial’. Sendo assim, no Brasil em 95/96 vem o axé, explode o pagode que é a transformação da bossa nova em algo mais comerciável. Em nível nacional é o fim das bandas dos anos 80 como Legião Urbana, e os Rock’n’Rolls de Cascavelletes, Replicantes, Camisa de Vênus e por ai vai. Além de outras bandas como Eng. Do Hawaii, Nenhum de Nós, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso se esconderem até hoje atrás dos ‘hits’ dos 80 e 90.

Os anos 90 foram a decapitação da moda da inteligência nas letras. Todas as bandas “POP’s” tinham complexidades nas letras, muito uso da liberdade poética, criação de expressões, no Brasil e no mundo. Quem quiser entender o que eu estou falando escute: Legião Urbana – Acrilic On Canvas.

 

Em nível mundial os 90 nos deram o que me fez parar para escrever. Mulheres atrás dos microfones cantando muito e com letras inacreditavelmente boas. A última grande colheita de mulheres cantoras até a chegada dos anos 2000, onde todas tem de ser gostosas dançando, com letras sobre relacionamento, homens, festas e todo aquele bla bla bla. Sim, algumas têm talento. Poucas... Bem poucas.

Britney, Aguilera, Mariah e da pra fazer uma lista enorme de mulheres comestíveis. Algumas com vozes magníficas, outras com muita Engenharia de Áudio por traz. E até as bem feias são transformadas em gostosas como se fosse um pré-requisito para se fazer sucesso. Vide Lady Gaga.

Obvio que existem exceções, mas eu falo de complexidade como moda. Hoje o complexo vende pouco e gera comentários tipo: “ah isso é muito complicado”.

Nos 90 ainda existiam as mulheres meia boca que cantavam. E cantavam muito, com letras sobre tudo. Inteligentes, com história, não manipuladas pelas gravadoras. Alanis Morissette, India Arie, Ledise, Natalie Imbruglia, Cat Power e ela que me fez parar pra escrever o que eu sempre quis: Fiona Apple.

Sempre ouvi falar sobre o som dela e nunca parei para ouvir... Bom, o som é tão bom que foi o divisor de águas entre ‘um dia vou escrever’ para ‘vou escrever agora’. Uma mistura de batida eletrônica, com um Q de Jazz, certos grooves de blues, e letras simplesmente fantásticas. E imaginar que ela e a Alanis foram contemporâneas no surgimento. E o grande porem que as diferencia de tudo. Complexas, Completas, no máximo bonitinhas, venderam DEMAIS. Ambas numero 1 nos Hits dos EUA, Europa e Aqui. Não que hoje não tenhamos esse tipo de som, temos, com homens, e praticamente todos vendem pouco. Bob Schneider, Joshua Radin e as Exceções Jason Mraz, que o sucesso de venda foi “I’m Yours”, a música mais pastelão e sem graça dele, de letra simples e Ben Harper que na verdade começou em 92 e estourou em 2003 com “Diamonds On The Inside” e é o Padrinho de um dos maiores sem graça da história: Jack Johnson.

Os anos noventa foram a ultima colheita ‘natural’. Talentos nascidos e não criados, que nos anos 2000 foram esmagados pela eng. Genética da musica, os melhoramentos e as escolhas de características específicas que teriam maior probabilidade de trazer sucesso. Não que isso seja errado. Tem apelo. Tem de ser explorado. É a criação de um nicho de mercado. A diferença é que a indústria da música cria o apelo que quer explorar, o que é um tipo de manipulação indireta dos gostos.

A junção de estilos diferentes com ritmos variáveis com mudança de tempo, e que orgulhariam Janis Joplin, sumiram e deram espaço para ritmos pares simples todos iguais. Pobres Rihanna, Beyoncé e Fergie. Tirando que elas estão no patamar ‘#pegavaeasy nível sonho’ e o fator de que duas a cada 5 realmente tem uma voz extraordinária. As músicas são tão iguais que às vezes se escuta uma e se acha que é a outra.

E por fim a maior diferença. A transformação da mulher inteligente, forte, completa, livre, independente e que chuta o balde porque sabe que pode e se conhece em uma Puta que fode porque quer e porque bebeu demais na última festa. É quase que uma apologia a putaria sem sentido. Nada contra a putaria, mas desde que tenha um sentido, um por que. Transformam o charme da independência feminina emocionalmente e sexualmente falando em nojo. Vide “London Bridge – Fergie”, a mesma que ainda serve para dar o exemplo de total paradoxo, pois a mesma Fergie canta “Big Girls Don’t Cry”. A primeira sendo um som de uma total afetada sem capacidade de lidar com o sucesso (exemplificando o que já foi escrito). Bêbada, sem cérebro que vai fazer merda sem nenhum por que. A segunda já de uma menininha dependente do cara que foi embora tentando ser madura. Bem interessante até. Útil. Uma coisa nada que ver com a outra. Isso se chama diversificação do produto para maior amplitude de mercado. Diversificando o estilo, diversifica-se o público e aumentam as chances de lucro.

Não existem mais sons saindo de uma mente, e sim sons saindo de gravadoras interpretadas pela voz as vezes boa de uma gostosa. Reitero que esse caso acontece principalmente quando trata-se de  uma mulher solo.

A falta de imaginação, de capacidade interpretativa são resultados das informações do entorno, e a música não deixa de ser uma educadora. Sem abstração no lado comum, não vai haver interpretação e entendimento do abstrato quando o mesmo é usado para referenciar o real. E sendo a música desde os anos 40 um porém educativo, as músicas simples ajudam a criar mentes simples, pois músicas complexas levam o seu ouvinte a querer entende-las, e por reação, exercitando o raciocínio, a imaginação. Criando as mulheres e seus Porquês.

Fiona Apple -  Sleep To Dream

 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Conseqüências das Coincidências


A circunstância da sorte, a capacidade do azar, a vontade dos dias e o movimento do corpo.

“Sorte. Quem dera ser um usuário dela, ela, a qual, ostenta com beleza majestosa os grandes feitos do tudo. Sinônimo de sucesso, de termino consistente, figurando entre os grandes nomes que já vagaram e caminharam no chão onde cavalgam as lendas que sustentam seu nome.”

Sorte. Palavra não requerente de trabalho. Ela em definição não significa o que se tornou, simplesmente porque a real descoberta da mesma está cada vez mais vulgarizada, ou quem sabe. Está cada vez mais adequalizada.

A sorte primordialmente faz sentido. A sorte é o fato que define algo que deu certo sem nenhum tipo de trabalho. Isso é a sorte. O que significa que aquela frase “A sorte acompanha a competência” é uma interpretação equivocada do sentido da palavra.

A sorte não acompanha a competência. O sucesso acompanha a competência. A sorte nada tem a ver com isso. Pelo menos não na sua definição. Se algo é feito depois de ser treinado ou entendido, tanto faz a sorte, o que acontece é que depois do estudo a probabilidade de sucesso é maior que sem o estudo, ou treinamento. Quanto mais se trabalha, mais se aumenta a probabilidade de sucesso, e quanto maior a probabilidade de sucesso, menor a chance de errar. Se tu treina chutar em gol e acerta, não é sorte, é trabalho. Se tu não treinas, nesse caso é sorte.

Ou seja, a sorte acompanha o incompetente!

A sorte é o fim concluído de maneira correta após o improviso.

Na vida a sorte é mapeada em fases. Fases de sorte e de azar. Azar, outra palavra a qual o simplismo impera na sua interpretação. Usada de maneira vulgar e quase inoperante. Uma vírgula entre frases.

Nessas fases apresentadas na vida, a explicação mais fácil sempre é tornar as fases boas como “maré de sorte”, ou “maré de azar”, ao invés de se entender o que acontece com a pessoa no momento o qual ela está passando por uma ou outra “maré”.

Como “em time que está ganhando não se mexe”, é fácil compreender porque ninguém tenta se entender quando as coisas estão certas, é simplesmente mais fácil viver a fase boa sem a classificar ou a estudar para repeti-la. E quando as coisas pioram, quando o sucesso não foi entendido, o fracasso é simplificado, tornando-se “azar”.

Como o nascimento de deus criado pelas dúvidas, a sorte e o azar endeusam a incompetência interna com o ego.

O fracasso entendido como azar é um perigo muito grande, posso até dizer que a falta de capacidade de se entender e entender a interação do mundo à volta com a própria pessoa é mais letal do que a H1N1 e eu exemplificarei o que digo.

O azar ou fracasso começa depois de que uma tentativa qualquer para algo falha, não da certo. Essas tentativas variam entre coisas muito simples a deveras complexas, e sendo assim falhas diferentes tem pesos diferentes.

Quando digo tentativas, digo qualquer coisa feita na vida com uma expectativa e perspectiva final de sucesso. Variando de jogar uma bolinha de papel no lixo a um sucesso de conquista de conta no trabalho. Sendo assim, as tentativas têm a possibilidade de não alcançarem o êxito. E dependendo da importância, confiança e local da tentativa, a falha vai obrigatoriamente exigir uma reação.

Quanto maior a confiança, maior a reação negativa com o fracasso. Quanto mais acostumado com o sucesso em uma tentativa específica, maior a reação negativa com o fracasso.

O poder psicológico da pessoa também varia. Varia em quantidade de apoio, em quantidade de entendimento e quantidade de autoconhecimento. A falha cria uma desconfiança no natural. O que é totalmente normal, o problema nasce quando a probabilidade entra em cena.

Supondo que certa tentativa tem 90% de chance de ter sucesso, isso significa que a pessoa falha uma a cada 10 vezes ou duas a cada 20 vezes em cada seqüência de tentativas. Isso significa que tu podes errar na primeira e na vigésima tentativa, ou na décima nona e vigésima, aí é que entra o azar.

O azar se define verdadeiramente na coincidência ou na baixíssima probabilidade de seqüência de falhas em uma seqüência de tentativas de final normalmente positivo. Você pode errar na 19ª e 20ª tentativas ou na 28ª, 29ª e 30ª tentativas.

Essas falhas consecutivas criam uma desconfiança forte na pessoa a qual ‘tenta’. A desconfiança leva a reflexão, e a reflexão a atitudes ou não.




A desconfiança leva a mudanças repentinas de idéias pensadas, e a troca de algo calculado por algo imaginado, a desconfiança leva a falta de critério, a cópia e a perda de identidade, e o que era usado para se ter o sucesso é perdido e sendo assim, baixam a probabilidade do mesmo, pois mudando a formula, normalmente, muda-se o resultado.

A desconfiança muda a formula de sucesso, diminuindo-o, e assim, começa a afetar os outros campos da vida. Características da linguagem corpórea mudam muito pela reação a reflexão interna. O caminhar é lento, a cabeça passa a focar os olhos para baixo, os ombros se encolhem, perde-se o lado extrovertido, e quando mais a falha chega aos 50%, a probabilidade de isolamento aumenta. E chegando ao isolamento, chegamos à depressão. O que mata mais do que a H1N1 e não tem vacina, por isso, mais letal.

O uso do azar como explicação para as falhas no trabalho e conseqüentemente na vida, formam um simplismo não real que diminuem as tentativas de recuperação do sucesso, pelo simples fato que não existe remédio para o azar, e não são notadas as mudanças de comportamento tanto na interação interpessoal, quanto na linguagem corpórea.

Uma pessoa que anda cabisbaixa, muda o foco de visão de quando era confiante, a exposição corpórea também muda a visão dos outros com a presença da pessoa. Nós como pessoas notamos o caminhar dos outros a nossa volta, e até classificamos com frases como: “Esse cara anda se achando”. O foco ao chão não tem a capacidade de notar o olhar das pessoas a volta, não observa que é observado e sendo assim, assimila que não é ‘mais’ olhado, criando a sensação de isolamento e diminuição da importância do ‘eu’ com o resto do mundo, e mais uma vez aumentando inconscientemente o isolamento.

Como uma reação em cadeia, a coincidência de falhas seguidas vão atingindo todos os campos da vida ramificando-se. Ou seja, falhas causam mais falhas em mais campos, criando mais falhas e assim por diante.

O fato é que tanto a sorte quanto o azar podem modificar o comportamento interno e social de um indivíduo. O estudo da pessoa para com suas ações principalmente nas épocas de sucesso servirá como prevenção para a negativa reação em cadeia de falhas. Se conhecendo, é possível se corrigir em caso de falhas consecutivas nomeando os verdadeiros problemas, se, e quando houverem de maneira correta ao invés de chamar tudo e qualquer coisa que deu errado de azar ou sorte.

A nomeação e a identificação de sorte ou azar revelam a real competência da pessoa com a sua capacidade e seu ‘eu’.

sábado, 3 de abril de 2010

Ela Como Pura

Confusões instantâneas com ares de convulsões simultâneas...

As mentes moribundas e mórbidas escapando repentinamente e por obrigações desnecessárias das delícias da existência.

A complicação da simplicidade complexa. Tantas vezes as coisas simples são mais complicadas que as opções mais difíceis que a idéia de simplicidade dilui-se na sua própria definição.

"Dúvidas Circunstâncias da exposição". Tantas vezes já usei essa frase.

"Eu nem sei mesmo quem sou". Poucas vezes frases bateram tão fortes.

A delícia de escrever sem com que a um segundo atrás tivesse qualquer tipo de inspiração. A beleza quase ofegante e maratônica de ser levado por uma música que sem motivo nenhum rasga nossas gargantas como unhas afiadas e benéficas buscando incrivelmente a felicidade.

Felicidade que em segundos parece não caber no peito. As costelas se expandem, o coração bate mais forte, a respiração acelera, o corpo perde a razão, os dedos a coordenação, a mente as idéias. E a vida perde a necessidade de ter um caminho, um destino.

A felicidade toma conta de tudo...

Abusa de tudo... Poucas vezes na vida pode-se aproveitar todas essas químicas que fazem as pessoas esquecerem o que querem, do que desejam, do que sonham, por que naqueles segundos, sozinhos, no meio do nada, ou de um quarto as escuras... A felicidade... Só ela basta pra explicar o que não tem explicação.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vira à Direita, Vira à Direita


Mais uma vez. De novo esse ônibus, eu desço, caminho alguns metros entre algumas árvores em um estacionamento vazio. É de tarde, o sol ta forte, e esses poucos passos até aquele corredor branco com janelas para as salas de aula só não ultrapassam mais o maçante e desgastante dia no qual me encontro totalmente sem vontade, porque as mesmas sensações são aliviadas pelo simples fato de existir ar condicionado.


-Sorte que vou passar por isso só uma vez por semana.


Me vejo em frente a porta, confiro numero e horário, giro a maçaneta preta, abro a porta e quando olho para frente, um daqueles erros de construções gramaticais que ocorreram na época da formação das línguas me vem a cabeça. Nessas horas falta um “It” no português pra descrever a coisa que vai me dar aula, mas tudo bem, caminho procurando um lugar e... ...Hm. Essa aí eu não conheço...


...Minha mochila é solta em qualquer canto como sempre e eu direciono meu olhar naquela a qual incrivelmente eu nunca tinha visto antes, poxa, estou aqui a tanto tempo, como nunca a vi, ou notei por esses prédios essa pessoa. Meus olhos fixam sem fixar, e estranhamente eu me preocupo em não permitir que ela note que eu estou observando.


Olhos focados unicamente no material a sua frente, rosto liso, olhos castanhos, pernas cruzadas com o braço direito apoiando o cotovelo na classe, sua mão direita segura um lápis pela ponta que escreve, e como uma mania de uma a cada duas pessoas a outra ponta se encontra apoiada na boca.


-Momento nada conveniente para lembrar de uma música do Fagner que diz “Quem me dera ser um peixe.” Mas faz sentido se trocarmos o peixe por lápis. Cilíndrico pedaço de madeira sortudo.


Braço esquerdo solto e mão esquerda segurando algumas folhas xerocadas. Atenção de se impressionar, ou o que ela está lendo é algo muito interessante, ou como eu, está procurando algo para fazer durante esta aula desagradável. Cabelo castanho preso às costas, seguro com novamente, um lápis. De vez que outra seus olhos mudam repentinamente de idéia e dão desmerecida importância ao ser que se encontra balbuciando palavras sem parar a nossa frente, e tão rápido quanto foram às idéias erronias de observar aquele ser, como se notassem a bobagem que acabaram de fazer, voltam aos papeis xerocados, e mudam a página.


-Pelo visto... Lendo ela está.


Seus movimentos são poucos e desinteressados, como que não dando nenhuma importância por serem observados. Já ao passar de algum tempo tiro um caderno de dentro da mochila para dar a impressão de que estou preocupado com alguma coisa e tão rápido quanto esse tempo durou, chega o intervalo.


Folheio algumas páginas do caderno para não sair no mesmo instante.


As pernas se descruzam e a mochila é pega, de dentro um pote com algumas bolachas.


-Bom... Como característica de quem estuda, não sairá daqui durante o intervalo, eu irei.


Cruzo em direção contraria o mesmo corredor branco e assim como a direção muda, a temperatura se da em um sistema dégradé do frio para o quente. Sigo meu caminho até algum lugar para comprar um café, e durante o percurso me dou por conta que acabo de ficar uma hora e meia analisando movimentos de alguém que eu nunca tinha visto antes.


-Que absurdo, ela nem é tudo isso.


As lembranças das palavras que o “It” disse lá na frente contornam o zero.


-Meu deus que distração, bom, não é nada demais, é algo normal, talvez, nem vou reparar mais.


Minhas atenções ficam voltadas para o pedaço de plástico que faz girar meu açúcar do café, e minha cabeça me confortando sobre a infantilidade da minha atenção e me garante que não é nada demais. Depois de alguns minutos com a cabeça voltada para baixo, ergo-a...


-Vira à direita, vira à direita.


Aquela mesma cabeça que me dizia “não é nada”, zurra para a mesma “nada” dobrar para onde eu me encontro. São 8 segundos infinitos, e no momento final o pilar que não me permite ter certeza da direção esconde por milésimos o decidido... ... ...


... ... ...


Direita!!!


Minha cabeça festeja como copa do mundo, e meu rosto não esbanja nenhuma modificação ou reação, apenas meu olhar se volta para o vidro ao meu lado.


-Ela não pode ver que eu a vi.


Caminhar leve e ao mesmo tempo firme, direção certeira, mas com delineamento de pessoa não 100% segura, seu rosto com simetria magnífica, tangenciando a perfeição, silhueta de dar inveja, e mochila nas costas.


-Mochila? Mulher... Mochila? Sem bolsa?


A confusão me atinge durante alguns segundos.


-No pior das hipóteses, isso representa pouca frescura.


Braços soltos se deixando jogar pelo compasso dos passos. Normalmente as pessoas andam com coisas nas mãos por não saber o que fazer com elas, as bolsas e pastas cumprem bem essa função, mãos soltas mostram segurança, mas não fico 100% convencido.


Ela chega cada vez mais perto a cada segundo e em nenhum momento até passar por mim nossos olhares se cruzam. Demonstro total desinteresse, vejo-a comprar algo e logo depois que ela passa, eu me levanto, acabo meu café, e me direciono outra vez para a sala de aula.


Quando pela terceira vez passo pela mudança de calor para frio, entro na sala, desta vez com a porta aberta, e ela já está sentada, comendo uma salada de frutas. Direciono-me para o meu lugar e em nenhum momento ela sequer olha para mim, nem mesmo por curiosidade. Já se passaram mais de uma hora e meia e ela ainda não me viu.


A segunda parte da aula começa, e bem de início ela tira o lápis do cabelo e o mesmo solta-se e se joga demonstrando a pitada de sensualidade que pode existir ali. Cabelos duas mãos acima da cintura, longos, e na velocidade que foram soltos, são novamente presos.


Como no início pouca coisa muda, apenas o Xerox não é mais o mesmo, mas a leitura e o interesse na aula é idêntico. Minha cabeça vaga sobre pensamentos absurdos sem explicação lógica sobre o assunto, de quem é, qual nome, da onde? Como? Por quê? Não tenho nenhuma informação e mesmo assim minha cabeça me ordena a fingir que possuo algo e que preciso deixar claro que ela não é nada.


A loucura da minha razão lógica com a minha confusão com a situação beira o ridículo.


-“Sinto-me um tolo”, Eu diria se estivesse em alguma das novelas de época das 7.


Assim que a aula acaba, rapidamente junto meu caderno ponho na mochila e saio. Mais preocupado com ela pensar que não tenho nada pra fazer ali do que com pressa para alguma coisa.


Atravessando pela quarta vez o mesmo corredor branco no mesmo dia, deixando a imagem e fisicamente ela pra traz vou me sentindo leve.


-É não é nada demais...


Vou em direção do ônibus, as árvores tiram a impressão de estacionamento vazio, metros bons de caminhar e sol que gratifica e alegra o fim de tarde, temperatura perfeita.


-Faltam só 6 dias... Tomara que ela não falte.