segunda-feira, 19 de abril de 2010

Conseqüências das Coincidências


A circunstância da sorte, a capacidade do azar, a vontade dos dias e o movimento do corpo.

“Sorte. Quem dera ser um usuário dela, ela, a qual, ostenta com beleza majestosa os grandes feitos do tudo. Sinônimo de sucesso, de termino consistente, figurando entre os grandes nomes que já vagaram e caminharam no chão onde cavalgam as lendas que sustentam seu nome.”

Sorte. Palavra não requerente de trabalho. Ela em definição não significa o que se tornou, simplesmente porque a real descoberta da mesma está cada vez mais vulgarizada, ou quem sabe. Está cada vez mais adequalizada.

A sorte primordialmente faz sentido. A sorte é o fato que define algo que deu certo sem nenhum tipo de trabalho. Isso é a sorte. O que significa que aquela frase “A sorte acompanha a competência” é uma interpretação equivocada do sentido da palavra.

A sorte não acompanha a competência. O sucesso acompanha a competência. A sorte nada tem a ver com isso. Pelo menos não na sua definição. Se algo é feito depois de ser treinado ou entendido, tanto faz a sorte, o que acontece é que depois do estudo a probabilidade de sucesso é maior que sem o estudo, ou treinamento. Quanto mais se trabalha, mais se aumenta a probabilidade de sucesso, e quanto maior a probabilidade de sucesso, menor a chance de errar. Se tu treina chutar em gol e acerta, não é sorte, é trabalho. Se tu não treinas, nesse caso é sorte.

Ou seja, a sorte acompanha o incompetente!

A sorte é o fim concluído de maneira correta após o improviso.

Na vida a sorte é mapeada em fases. Fases de sorte e de azar. Azar, outra palavra a qual o simplismo impera na sua interpretação. Usada de maneira vulgar e quase inoperante. Uma vírgula entre frases.

Nessas fases apresentadas na vida, a explicação mais fácil sempre é tornar as fases boas como “maré de sorte”, ou “maré de azar”, ao invés de se entender o que acontece com a pessoa no momento o qual ela está passando por uma ou outra “maré”.

Como “em time que está ganhando não se mexe”, é fácil compreender porque ninguém tenta se entender quando as coisas estão certas, é simplesmente mais fácil viver a fase boa sem a classificar ou a estudar para repeti-la. E quando as coisas pioram, quando o sucesso não foi entendido, o fracasso é simplificado, tornando-se “azar”.

Como o nascimento de deus criado pelas dúvidas, a sorte e o azar endeusam a incompetência interna com o ego.

O fracasso entendido como azar é um perigo muito grande, posso até dizer que a falta de capacidade de se entender e entender a interação do mundo à volta com a própria pessoa é mais letal do que a H1N1 e eu exemplificarei o que digo.

O azar ou fracasso começa depois de que uma tentativa qualquer para algo falha, não da certo. Essas tentativas variam entre coisas muito simples a deveras complexas, e sendo assim falhas diferentes tem pesos diferentes.

Quando digo tentativas, digo qualquer coisa feita na vida com uma expectativa e perspectiva final de sucesso. Variando de jogar uma bolinha de papel no lixo a um sucesso de conquista de conta no trabalho. Sendo assim, as tentativas têm a possibilidade de não alcançarem o êxito. E dependendo da importância, confiança e local da tentativa, a falha vai obrigatoriamente exigir uma reação.

Quanto maior a confiança, maior a reação negativa com o fracasso. Quanto mais acostumado com o sucesso em uma tentativa específica, maior a reação negativa com o fracasso.

O poder psicológico da pessoa também varia. Varia em quantidade de apoio, em quantidade de entendimento e quantidade de autoconhecimento. A falha cria uma desconfiança no natural. O que é totalmente normal, o problema nasce quando a probabilidade entra em cena.

Supondo que certa tentativa tem 90% de chance de ter sucesso, isso significa que a pessoa falha uma a cada 10 vezes ou duas a cada 20 vezes em cada seqüência de tentativas. Isso significa que tu podes errar na primeira e na vigésima tentativa, ou na décima nona e vigésima, aí é que entra o azar.

O azar se define verdadeiramente na coincidência ou na baixíssima probabilidade de seqüência de falhas em uma seqüência de tentativas de final normalmente positivo. Você pode errar na 19ª e 20ª tentativas ou na 28ª, 29ª e 30ª tentativas.

Essas falhas consecutivas criam uma desconfiança forte na pessoa a qual ‘tenta’. A desconfiança leva a reflexão, e a reflexão a atitudes ou não.




A desconfiança leva a mudanças repentinas de idéias pensadas, e a troca de algo calculado por algo imaginado, a desconfiança leva a falta de critério, a cópia e a perda de identidade, e o que era usado para se ter o sucesso é perdido e sendo assim, baixam a probabilidade do mesmo, pois mudando a formula, normalmente, muda-se o resultado.

A desconfiança muda a formula de sucesso, diminuindo-o, e assim, começa a afetar os outros campos da vida. Características da linguagem corpórea mudam muito pela reação a reflexão interna. O caminhar é lento, a cabeça passa a focar os olhos para baixo, os ombros se encolhem, perde-se o lado extrovertido, e quando mais a falha chega aos 50%, a probabilidade de isolamento aumenta. E chegando ao isolamento, chegamos à depressão. O que mata mais do que a H1N1 e não tem vacina, por isso, mais letal.

O uso do azar como explicação para as falhas no trabalho e conseqüentemente na vida, formam um simplismo não real que diminuem as tentativas de recuperação do sucesso, pelo simples fato que não existe remédio para o azar, e não são notadas as mudanças de comportamento tanto na interação interpessoal, quanto na linguagem corpórea.

Uma pessoa que anda cabisbaixa, muda o foco de visão de quando era confiante, a exposição corpórea também muda a visão dos outros com a presença da pessoa. Nós como pessoas notamos o caminhar dos outros a nossa volta, e até classificamos com frases como: “Esse cara anda se achando”. O foco ao chão não tem a capacidade de notar o olhar das pessoas a volta, não observa que é observado e sendo assim, assimila que não é ‘mais’ olhado, criando a sensação de isolamento e diminuição da importância do ‘eu’ com o resto do mundo, e mais uma vez aumentando inconscientemente o isolamento.

Como uma reação em cadeia, a coincidência de falhas seguidas vão atingindo todos os campos da vida ramificando-se. Ou seja, falhas causam mais falhas em mais campos, criando mais falhas e assim por diante.

O fato é que tanto a sorte quanto o azar podem modificar o comportamento interno e social de um indivíduo. O estudo da pessoa para com suas ações principalmente nas épocas de sucesso servirá como prevenção para a negativa reação em cadeia de falhas. Se conhecendo, é possível se corrigir em caso de falhas consecutivas nomeando os verdadeiros problemas, se, e quando houverem de maneira correta ao invés de chamar tudo e qualquer coisa que deu errado de azar ou sorte.

A nomeação e a identificação de sorte ou azar revelam a real competência da pessoa com a sua capacidade e seu ‘eu’.

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