terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Adeus aos Seus Olhos


Olhos... Janela do mundo, oráculo do presente, guia, criador da beleza, e também visualizador da tristeza. Por eles vemos as lagrimas que descem através de outros olhos, por eles sentimos aquele aperto no peito, a sensação de querer dar carinho, o desejo de dar um abraço.

Os olhos dela sempre foram distantes dos meus, nunca nos encontramos, mas pelos meus eu via ela. Não só enxergamos, mas sentimos e amamos com eles. Atrás dos óculos que jogavam o ar de completa, e de aconchego amoroso eles estavam lá, e às vezes a sensação era de se estar perdida no mundo. Foram os olhos dela que me fizeram sentir a maior falta quando eu a vi pela ultima vez. Eles estavam diferentes, eles estavam abertos pra mim, e quando se focaram nos meus eu senti o nascer de um brilho vindo do fundo do coração, mas infelizmente, alem do brilho de surpresa, era um brilho de tristeza, e como ver aquele brilho me confundiu.

A dor que os olhos demonstram é algo quase compartilhador. Os olhos demonstram a dor dos outros e nos fazer sentir a dor por, ou com eles.

Ela não tinha mais nenhuma escolha, e muito menos uma chance. Dava pra sentir isso não só nas palavras dos cegos, mas pelos movimentos dos seus olhos. Pelo menos eu dei Tchau.

Eu queria poder ver através dos olhos dela, ter a certeza de que valeu a pena, e que no fim o que eu pensei não fazia sentido. Eu gostaria de ter aprendido mais da minha vida olhando pelos olhos dela, e eu sei que poderia, mas não sei o quanto os olhos dela disseram para quem estava por perto. Não digo e nem quero lembrar dos julgamentos por deveres sem visão, ainda mais quando todos os olhares estão certos mesmo se direcionando para locais diferentes.

Eu sei que tudo parece muito injusto. Não pelo fim, mas por como ele se dá. Eu ainda a verei muitas vezes, nos meus sonhos, quando eu lembrar, no meu pensamento. Na verdade isso não me incomoda, eu sinto até uma paz nesse momento. É, uma paz triste, mas uma paz. Acabou.

Eu dividi pouco o que eu realmente pensei disso tudo, e sim, eu não estava lá, e sinceramente, não queria estar. Eu disse “eu te amo”, eu senti o que eu nunca achei que ia sentir, e não queria guardar aquela visão como ultima, e mesmo sendo, meus olhos me ajudaram a me enganar e lembrar dos momentos que importam. Quando o brilho que eu via, não eram aqueles da duplicidade entre surpresa e tristeza.

Sinto saudade daquela pedra no meio do pátio e da parreira lá em cima, do Lucas com camisa marrom com um dinossauro laranja, e ele com cara de neném mais fofo do mundo, além de quando ele achava que nabo era morango. Almoços onde eu era obrigado a comer salada... E de como era boa aquela cebola. O cheiro característico daquela casa, daquela rua, o sabor de passar por aquele portão. O quarto do André onde eu aprendi a gostar de Pink Floyd. Passei muito tempo ali, não importa quando e sim que passei, a minha infância foi ótima por isso, e só tenho a agradecer.

As lagrimas não são apenas demonstração de tristeza e de alegria quando percorrem o rosto vindos dos verdadeiros sentimentos dos olhos. Elas fecham a garganta, elas apertam o peito, elas tremem o corpo e elas fazem quem as teve e quem as está vendo tomarem atitudes. E normalmente elas expõem os verdadeiros sentimentos de todas as pessoas pra fora, expõem as fraquezas e os desejos. Os olhos são muito mais do que órgãos para se ver o mundo. Eles nos obrigam com lagrimas a sentir a verdade.

Os olhos também juntos com todas as visões se vão, juntos com o corpo, eles, os vetores da memória levam tudo com eles, vítimas da circunstância, mas pelos olhos dela, pretendo sentir nos meus olhos a alegria e a satisfação que eu via por traz daqueles óculos. Guardarei aquele rosto sorrindo que me acalmava na face dos meus olhos. Desculpa, de nada e Obrigado.