segunda-feira, 10 de maio de 2010

90’s: The Last Harvest

Faz tempo que eu vejo (escuto) falarem que os anos 90 foram um desastre para a música. Sem nada novo e com um review dos sucessos das bandas dos anos 70 e 80.

Bom, bandas universais nasceram nos 80. Metallica, Megadeth, Antrax, Slayer, e isso falando da faixa de som que envolve os ‘metals’. O hip-hop pode não parecer, mas nasceu nos 70, mas nos 90 deu ao mundo com o Rap o Tupac Shakur, simplesmente uma mente nova para o mundo fechado de cabeça fraca com suas difíceis relações de raças, principalmente na comunidade americana, nem precisava, mas só mencionar “Changes” diz tudo. Nos mesmos 70 surgiu a música eletrônica, que veio ao mundo com a banda alemã Kraftwerk. Pode se dizer, pelo menos me usando como referência de opinião que os anos 80 para o metal foram os anos de prata depois do forte apelo pós hippie dos anos 60. Com Led Zeppelin, The Doors, Rolling Stones. Em 70 vem a público o Aerosmith, que na época tinha um apelo totalmente diferente.

O fato é que é dito que nos 90 não aparecem novidades. E se tem uma grande bobagem a ser dita é exatamente essa. Os anos noventa começam com nada mais que o Grunge. Um pedido de som próximo ao ‘doom’, letras fortes sem vinculação com religião, mais para a depressão ligada ao tédio, problemas reais e tristes, estilo ‘foda-se’ que poucos sabem, foi a moda do início dos anos 90. Alice in Chains, Sound Garden, Perl Jam, Silverchair... Com a frase cliché “de Seattle para o mundo”, o grunge criou uma procura ao intelecto depressivo, a compreensão da parte triste do ego. A maior mudança da troca de milênios foi a futilização das letras e a incapacidade do público para com letras significativas.

As gravadoras simplesmente decidiram que tudo que fosse difícil de entender era ‘não-comercial’. Sendo assim, no Brasil em 95/96 vem o axé, explode o pagode que é a transformação da bossa nova em algo mais comerciável. Em nível nacional é o fim das bandas dos anos 80 como Legião Urbana, e os Rock’n’Rolls de Cascavelletes, Replicantes, Camisa de Vênus e por ai vai. Além de outras bandas como Eng. Do Hawaii, Nenhum de Nós, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso se esconderem até hoje atrás dos ‘hits’ dos 80 e 90.

Os anos 90 foram a decapitação da moda da inteligência nas letras. Todas as bandas “POP’s” tinham complexidades nas letras, muito uso da liberdade poética, criação de expressões, no Brasil e no mundo. Quem quiser entender o que eu estou falando escute: Legião Urbana – Acrilic On Canvas.

 

Em nível mundial os 90 nos deram o que me fez parar para escrever. Mulheres atrás dos microfones cantando muito e com letras inacreditavelmente boas. A última grande colheita de mulheres cantoras até a chegada dos anos 2000, onde todas tem de ser gostosas dançando, com letras sobre relacionamento, homens, festas e todo aquele bla bla bla. Sim, algumas têm talento. Poucas... Bem poucas.

Britney, Aguilera, Mariah e da pra fazer uma lista enorme de mulheres comestíveis. Algumas com vozes magníficas, outras com muita Engenharia de Áudio por traz. E até as bem feias são transformadas em gostosas como se fosse um pré-requisito para se fazer sucesso. Vide Lady Gaga.

Obvio que existem exceções, mas eu falo de complexidade como moda. Hoje o complexo vende pouco e gera comentários tipo: “ah isso é muito complicado”.

Nos 90 ainda existiam as mulheres meia boca que cantavam. E cantavam muito, com letras sobre tudo. Inteligentes, com história, não manipuladas pelas gravadoras. Alanis Morissette, India Arie, Ledise, Natalie Imbruglia, Cat Power e ela que me fez parar pra escrever o que eu sempre quis: Fiona Apple.

Sempre ouvi falar sobre o som dela e nunca parei para ouvir... Bom, o som é tão bom que foi o divisor de águas entre ‘um dia vou escrever’ para ‘vou escrever agora’. Uma mistura de batida eletrônica, com um Q de Jazz, certos grooves de blues, e letras simplesmente fantásticas. E imaginar que ela e a Alanis foram contemporâneas no surgimento. E o grande porem que as diferencia de tudo. Complexas, Completas, no máximo bonitinhas, venderam DEMAIS. Ambas numero 1 nos Hits dos EUA, Europa e Aqui. Não que hoje não tenhamos esse tipo de som, temos, com homens, e praticamente todos vendem pouco. Bob Schneider, Joshua Radin e as Exceções Jason Mraz, que o sucesso de venda foi “I’m Yours”, a música mais pastelão e sem graça dele, de letra simples e Ben Harper que na verdade começou em 92 e estourou em 2003 com “Diamonds On The Inside” e é o Padrinho de um dos maiores sem graça da história: Jack Johnson.

Os anos noventa foram a ultima colheita ‘natural’. Talentos nascidos e não criados, que nos anos 2000 foram esmagados pela eng. Genética da musica, os melhoramentos e as escolhas de características específicas que teriam maior probabilidade de trazer sucesso. Não que isso seja errado. Tem apelo. Tem de ser explorado. É a criação de um nicho de mercado. A diferença é que a indústria da música cria o apelo que quer explorar, o que é um tipo de manipulação indireta dos gostos.

A junção de estilos diferentes com ritmos variáveis com mudança de tempo, e que orgulhariam Janis Joplin, sumiram e deram espaço para ritmos pares simples todos iguais. Pobres Rihanna, Beyoncé e Fergie. Tirando que elas estão no patamar ‘#pegavaeasy nível sonho’ e o fator de que duas a cada 5 realmente tem uma voz extraordinária. As músicas são tão iguais que às vezes se escuta uma e se acha que é a outra.

E por fim a maior diferença. A transformação da mulher inteligente, forte, completa, livre, independente e que chuta o balde porque sabe que pode e se conhece em uma Puta que fode porque quer e porque bebeu demais na última festa. É quase que uma apologia a putaria sem sentido. Nada contra a putaria, mas desde que tenha um sentido, um por que. Transformam o charme da independência feminina emocionalmente e sexualmente falando em nojo. Vide “London Bridge – Fergie”, a mesma que ainda serve para dar o exemplo de total paradoxo, pois a mesma Fergie canta “Big Girls Don’t Cry”. A primeira sendo um som de uma total afetada sem capacidade de lidar com o sucesso (exemplificando o que já foi escrito). Bêbada, sem cérebro que vai fazer merda sem nenhum por que. A segunda já de uma menininha dependente do cara que foi embora tentando ser madura. Bem interessante até. Útil. Uma coisa nada que ver com a outra. Isso se chama diversificação do produto para maior amplitude de mercado. Diversificando o estilo, diversifica-se o público e aumentam as chances de lucro.

Não existem mais sons saindo de uma mente, e sim sons saindo de gravadoras interpretadas pela voz as vezes boa de uma gostosa. Reitero que esse caso acontece principalmente quando trata-se de  uma mulher solo.

A falta de imaginação, de capacidade interpretativa são resultados das informações do entorno, e a música não deixa de ser uma educadora. Sem abstração no lado comum, não vai haver interpretação e entendimento do abstrato quando o mesmo é usado para referenciar o real. E sendo a música desde os anos 40 um porém educativo, as músicas simples ajudam a criar mentes simples, pois músicas complexas levam o seu ouvinte a querer entende-las, e por reação, exercitando o raciocínio, a imaginação. Criando as mulheres e seus Porquês.

Fiona Apple -  Sleep To Dream

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário