quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Passar da Noite

Inquieto, silêncio. No teto as pás do ventilador giram lentamente não parecendo haver qualquer formação de vento.

As paredes brancas somem e ocultam-se na escuridão do quarto, mesmo com os olhos abertos, a sensação de escuridão e da noite consomem o olhar vago e perdido que se acolhe na calma da paz distorcida e confusa. A luz da mesma noite escura entra aos poucos pela janela aberta. A pupila se expande na velocidade tétrica do incompreendido. O vento que não vem do teto entra suave pela abertura da janela, como se estivesse à procura de algo ou alguém.

Esgueirando-se pelos vértices do quarto a brisa encontra um corpo deitado e estirado na maciês do colchão sobre a cama. Como milhões de mãos leves e aveludadas o vento assume o seu papel mais importante e mergulha aquele mesmo corpo antes inquieto no aconchego da temperatura ideal.

Sente-se no peito, no rosto, nas pernas, nos braços a brisa dando o seu sinal de satisfação. Os olhos se fecham, e a noção é perdida. As paredes de concreto, imóveis parecem agora se distanciar, o quarto se transforma em um vórtice onde o corpo encontra-se sobre um buraco negro.

Com os olhos enxergando sob as pálpebras vêem-se as cores e imagens mais completas do momento. O corpo solto, sem a necessidade de movimento, a sensação dos músculos deixaram de existir, e perderem a sua função junto com os olhos que agora se voltam para dentro da mente procurando os porquês e clareando os pensamentos.

O barulho das mesmas pás que inutilmente se esforçam para criar vento dão o ritmo dos segundos que lentamente passam, destruindo quase que completamente a física do tempo.

Por fora a imobilidade do corpo molda a cena equivocada da paz, e por dentro quem sabe pela mesma imobilidade a mente corre, grita, cria, xinga e ri na velocidade incontrolável do pensamento.

Não se sente mais o vento, não se tem mais a pressão do conforto da cama, perde-se a noção de espaço. A noite não parece passar, junto com o tempo que é totalmente esquecido e sua definição completamente enganada pela falta de importância que demonstra ter. Mas mesmo não se notando, o tempo não se vence e com o próprio nome algo o faz ser sentido.

Agora as pálpebras parecem segurar o peso de todas as partes do corpo junto com as paredes do quarto. Arrepios aleatórios vindos dos espasmos de emoção da mente fazem-se lembrar que ainda existem músculos para sentir.

O peso aumenta, a membrana que protege o olho já ínsita a sensação de estar agüentando uma casa inteira em chamas, um cansaço toma conta da mente, e não se entende muito bem o porque. Os sentidos começam a voltar, e a brisa novamente é notada acariciando o corpo e somente agora lembra-se que os membros ainda estão ainda ali, com a necessidade de movimento. Uma leve mexida na perna e senti-se o lençol.

Os olhos desistem e abrem. Rapidamente a pupila contrai-se automaticamente fazendo-nos deixas os mesmo entreabertos. A luz invade o ambiente. O sol já nascido obrigatoriamente cria a surpresa e explica a sensação de chamas. O corpo todo renasce e espreguiça-se como se tivesse passado por uma ótima noite de descanso. Ao contrario da mente que vagou a noite inteira nas entranhas dos pensamentos.

O branco novamente tem o seu ar da combinação das cores dando a sensação normal de paz, a confusão da escuridão se desfaz na clareza do dia. O gracejo do assoviar dos pássaros repentinamente se faz presente, e a alegria do céu azul acalma o ambiente.

Súbitamente as idéias se recolhem e os traços do corpo agem. A mente vai descansar do sono inexistente.



Nenhum comentário:

Postar um comentário